Texto: Alisson Ferreira
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Vivemos dias desafiadores
que nos forçam a construir defesas a todo o momento. Nunca os caminhos deste
mundo se mostraram tão frágeis em suas bases. Estas, outrora, solidificadas nas
palavras da família, dos professores e na pregação de presbíteros e religiosos
estavam, sempre, carregadas de firmeza.
Forçados a nos defender,
indefesos caminhamos. Nossa educação, como sujeitos sociais e religiosos,
sofreu muitas transformações. Somos filhos da modernidade esvaída que nos legou
uma contemporaneidade, bem expressa e desenhada em sua liquidez, sempre disposta
a nos direcionar às múltiplas possibilidades de se viver a solidão dentro de
nossas comunidades.
Um amigo filósofo[1] presenteou-me com uma de
suas obras literárias e a degustei página a página. Os escritos apresentavam a
inquietude do homem em se redescobrir e a possibilidade desta redescoberta com
a mediação de Deus. Diante dessa leitura, pus-me a evocar memórias. Aprendi,
quando criança, que Deus morava comigo em minha comunidade. Na juventude, li e ouvi
grandes exegetas que retiraram dos textos sagrados que o Verbo se fez carne e veio
morar com os pobres. E vi, na vivência cotidiana com meus pais, que Deus é realmente
comunidade quando estamos a serviço do outro. Porém, a leitura inquietou-me
para a seguinte questão: onde estão as antigas verdades e seus proclamadores?
Somos frutos da tradição
oral. Por mais que estejamos mergulhados em redes sociais e em informações
supervelozes, construir nossa identidade sem o repasse oral de valores e
tradições não é fácil. A educação religiosa está como a personagem da parábola
do Filho Pródigo: saiu pela contemporaneidade à procura de valores “high tech” e
se encantou com o que viu. Ela está seduzida pela “fé só minha”, uma criação da cultura atual de busca pela
felicidade. Nela, não há lugar para os espaços coletivos de construção de crenças;
tudo é individualizado e raso.
Em nossas instituições
religiosas e de ensino formal, os tutores do ensinamento parecem sem rumo. Se
por um lado alertam-nos quanto aos riscos de ancorarmos nossas vidas nas
verdades passageiras da contemporaneidade, por outro, estão confusos quanto ao
combate da sedução das mesmas. Os proclamadores da Verdade estão intensamente
presos aos desafios deste mundo midiático, tecnocrata e ambivalente, que não
procuram mais os caminhos da memória; preferem o piso frágil de nossos tempos
para tentar explicar o que por si só se explica.
A Verdade está em nossas
raízes. Esta é como a “Flor indefesa” de Carlos Mesters (1986,p.8-9), que
transforma sangue em adubo. A nossa raiz verdadeira transforma a aridez de
nossa contemporaneidade em fertilizante e mesmo indefesa, se faz forte. Ela é
diferente das verdades que ouvimos todos os dias e mais presente que as
proclamadas em todas as Redes Sociais. Nossa Verdade não está em nenhuma
tecnologia e nem em qualquer best seller
da literatura. Ela, libertadora, já nasce temida em nossos tempos e cresce na
memória dos que a evocam, humildes e desejosos de transformações, nesta
sociedade relativista e só.
[1]
Israel Boniek Gonçalves. Autor do livro: Águas profundas. Existencialismo e
Subjetividade, FAEST, 2012.