segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Brasil – África: a inquietude de um tema

Já escrevi vários artigos sobre a questão negra no Brasil e de forma insistente dissertei sobre o complexo e resistente mundo ideológico afro-brasileiro. Porém, por mais que eu escreva sobre esta temática, não aquietarei a memória vibrante que, teimosa, povoa as mentalidades e amedronta as permanências históricas.

A relação Brasil-África é placentária. Somos herdeiros de uma nefasta herança chamada escravidão e unidos por três séculos de um processo histórico que, em seus fluxos e refluxos, deixaram marcas indeléveis nas duas culturas.

A temática africana e sua relação com o Brasil é ainda tratada com ressalvas, quer seja devido a imobilidades políticas, ou derivadas de uma profunda vontade de esquecer o que jamais deveria ter sido lembrado. Para alguns setores da sociedade, os debates que incluem na pauta do dia as raízes africanas do Brasil, constrangem, rebaixam e inviabilizam o ideal de nação e a entrada do país no mundo euro-estadunidense.

Os números negativos da população afro-brasileira abonam tais ressalvas. Porém, eles explicitam o que em séculos a elite agrária do Brasil promoveu. É dela a marca desumana na história de nossa nação. Eis porque nunca me furtarei em manifestar minha inquietude diante deste debate histórico, nem tampouco falsear o que não se permite omitir.

Calar diante das “linhas do tempo”, ou mesmo das “circularidades” da história tradicional é inconcebível. Tal história mascarou, deixou latentes as contribuições negras dentro da sociedade brasileira e ensinou, por longo tempo, toda a nação o não reconhecimento do processo civilizatório que o continente africano exportou para o Brasil. Daí a mística placentária, da qual o historiador Alberto da Costa e Silva expressas da seguinte forma - “A África está no Brasil e o Brasil se prolonga na África”.

Como brasileiro, tenho o direito sagrado e patriótico de saber que o meu país deve muito ao povo africano. Vale lembrar que nenhum africano veio para o Brasil porque quis; que a presença deles em nosso território é o fruto amargo da política mercantilista do capitalismo europeu que aqui os colocou, forçosamente, para garantir a força de trabalho nas lavouras e minas.

O pecado histórico da não aceitação da contribuição dos africanos na formação da sociedade brasileira vem sendo corrigido. Hoje, o Brasil possui uma população de maioria afro-descendente e grande é o número de pessoas que também se inquietam e buscam conhecer os valores culturais que estão em nossas raízes africanas.

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