Repletos
de uma arrogância pós-moderna, dos brados demagógicos como: - "Chega de
corrupção; Viva a liberdade; Pelo direito disso e daquilo”, caminhamos. Nossa
sociedade ainda não aprendeu a ser coerente, pelo menos quanto aos efeitos da
teoria e da prática. Não temos norte, nem sequer construímos um. A verdade é
que estamos brincando com a vida e dela fazendo pouco caso. Sem sintonia,
seguimos.
Passou-se
uma década do novo milênio e continuamos os mesmos. O que mudou em nós? Enquanto
a força do tempo faz-se nítida em nossa frágil composição corpórea, não podemos
dizer que, na mesma intensidade, nossas condutas tenham sofrido alterações. Vivemos uma crise ética; e não
política como alardeiam os profetas deste novo tempo.
Somos
homens e mulheres cansados, dispersos, infortunados e solitários em meio
ao turbilhão de eventos que produzimos. Walter Benjamin, desanimado, certa vez expressou
sobre a incapacidade de transformação da sociedade: "que as coisas continuem como antes, eis a catástrofe!". As permanências estão nos conduzindo a um doentio desequilíbrio
moral, a um colapso societário que, certamente, as gerações futuras irão
lamentar.
Nota-se,
curiosamente, que as situações mais simples de serem vivenciadas estão cada vez
mais raras. Vivemos a era dos megaeventos, das superproduções e da exaltação da
futilidade. Não há espaço para os acenos cordiais, para as visitas familiares e
nem mesmo para as conversas amigáveis, isso gasta tempo. “E tempo é caro.”
Somos
factuais; seres presos aos imediatismos mercadológicos; amantes do amanhã
remunerado e sempre esperado. Parece contraditório, mas é assim que gostamos. Não
buscamos “estar convictos” de nada. Convicções são persuasivas e muitas vezes podem
revelar-nos impossibilidades e por isso, viver o fato imediato e palpável impede-nos,
momentaneamente, de sofrermos uma desilusão. Benjamim declara com hábil olhar essa
realidade. Como filósofo, ao contemplar a sociedade em que está inserido ele expressa
o fascínio que temos para com as realidades factuais.
Estamos
sem nomes, sem amores, sem crenças; peregrinos em um mundo que não se prende a
nós - há muito partiu! Perdemos a hora e nossa vida passou. Estamos com 33, 45,
60, 80 anos e vivemos nossas desventuras como antes, só que agora, entediados
com nossa própria prepotência, escrevemos textos lamentando nossa falta de identidade.
Texto: Alisson Ferreira
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