quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A África quer contar sua história

“Também o leão deverá ter quem conte a
sua história, não só o caçador”
(Chimua Achebe, escritor Nigeriano)

O continente africano é depositário de culturas e histórias que se perdem em tempos imemoriais. Com uma relevância ímpar,o mundo deve olhar para a África, pois nela está o palco das primeiras relações humanas, o berço de sociedades ainda não estudadas, enfim, a África é bem mais que suas costas oceânicas.

Para nós, brasileiros, a relação com o continente africano gera um conceito quase placentário. Uma ligação de aproximadamente cinco séculos gestou inúmeros valores simbólicos e materiais que não se desfizeram por uma aproximação que não encontra distâncias. O historiador brasileiro, Alberto da Costa e Silva romantizou as relações entre Brasil e África em seu livro “Um rio chamado Atlântico”, para ele, os mesmos estão ligados não por um oceano, mas sim, por um rio, pois o rio apresenta margens visíveis, o oceano não.

Neste sentido, apontando aspectos desconhecidos ou mesmo mal trabalhados pela historiografia tradicional, a história da África precisa ser contada de forma a edificar o que ela realmente é. Como sujeito, e não objeto de sua história, a África; não mais dobrada sobre si mesma, deve ser vista em sua totalidade, destacando seus povos, culturas e particularidades dentro dos fluxos e refluxos que se desenrolaram bem antes da chegada dos colonizadores.

Contar a história da África é reiniciar uma caminhada sobre os percursos tão macerados e naturalizados por historiadores e pela mídia; é apagar o grande número de designações errôneas, comuns em nossos livros e jornais, tais como: escravidão, tráfico e colonização. A África possui infinitas singularidades e particularidades dentro de seu imenso território, tem historicidade própria e não se enquadra, definitivamente, nos conceitos pejorativos ocidentalizados.

O Brasil tem avançado nos estudos da história da África. Hoje já se consegue desconstruir falsas análises acerca da relação entre o continente africano e o cotidiano brasileiro. Podemos, assim, elogiar o esforço de muitas pessoas que estão na luta pela disseminação dos estudos africanos em terras tupiniquins, abrindo portas para que a África não seja tão naturalizada e caricaturada por meio de análises pré-determinadas.

Hoje nas escolas crianças e jovens poderão conhecer que a África é mais que a propaganda negativa da mídia e é bem maior que os insultos, embargos econômicos, guerras étnicas, doenças, calamidades e que o negro não está no mundo na forma gasosa, o negro possui suas formas sólidas, evidentes e constituídas e as vem revelando em anos de luta.

A história africana é um pouco da história de cada um de nós, mesmos os não negros, ela não está em nenhuma origem nacional e nem nas análises biológicas, ela esta na origem, na gênese de nossa compreensão de mundo e povoa nossas cabeças e ecoa em nossas vozes como um poema: “E apesar de tudo, ainda sou a mesma! Livre e esguia, filha eterna de quanta rebeldia me sagrou. Mãe-África!” . (Benguela,1953: Poemas,1966)

Texto: Alisson Ferreira

2 comentários:

  1. Mesmo com a depreciação com que a África sempre foi mencionada,houve quem quizesse conhecê-la melhor.
    Diversos cientistas relataram aspéctos da riqueza africana,além do que vemos desfigurado no Brasil.
    É difícil contestar a negação e a exploração comuns.
    Assim, parece mais produtivo não só mostrar tais pricípios.como partir aos caminhos que o ocidente valoriza e tanto cobra dos africanos.

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  2. Quando se fala da África só consigo pensar no livro Negras Raízes. Fica a dica

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