quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Os refugados do sistema e a globalização: Os desafios do educar no pós-modernidade

Vivemos, há décadas, o ideário do “Estado Mínimo”; que esfacela e reduz, cada vez mais, nossas relações duradouras. Neste “Estado”, pautado por privatizações e políticas que bebem na fonte do liberalismo moderno, não se minimiza apenas o patrimônio das nações - as relações humanas também são reduzidas a “negócios”.

Supostamente familiar, e com uma propaganda quase infalível de compartilhamento social, o mundo pós-moderno apresenta-se, na verdade, “frágil”, inseguro e carente de relações e vínculos concretos; frutos de uma cultura perversa cuja “marca do descarte” se faz iminente.

Estão, as democracias modernas e suas instituições governamentais, privatizando tanto seus patrimônios públicos, quanto os relacionamentos. Nelas, as instituições comunitárias estão se convertendo de forma acelerada em agrupamentos privados e seletivos. Isto aponta para uma latente inversão de valores: sai o social ou comunitário - que pressupõe a integração de todos, e entra o privado - pautado no lucro e em ações pragmáticas e segregadoras.

A crítica, direcionada a este modelo “mínimo”, é embasada na observância da diversidade social que se apresenta viva nas incontáveis misturas étnico-culturais e nas manifestações religiosas. A pós-modernidade precisa compreender a urgente necessidade da inclusão dos “marginalizados globalizados”; dos milhões de refugos e refugados pelos sistemas neo-liberais,  nos debates e ações políticas.

Na busca voraz pela redução acelerada dos Estados deterioram-se e corroem-se o caráter e as relações sociais. Em especial, o que assola negativamente a sociedade atual, nestes tempos de globalização, nasce de uma nociva cultura “líquida”; criada pela pós-modernidade. Nesta cultura os relacionamentos são frouxos, inadequados, inválidos e inviáveis.

Educar na “pós-modernidade líquida” [1] é um desafio. O professor (sujeito social e humano) deve compreender a riqueza que há na diversidade. Compreender que o tecido social encontrado em todas as nações do mundo é caracterizado por inúmeras contribuições que, ao longo dos processos históricos, foram posicionadas para a construção de um mosaico benéfico da humanidade.

Ao criticar a inversão de valores que os governantes impunham às relações sociais em sua época, Santo Agostinho dizia: “a vida vale mais que matéria”. Para Agostinho, uma sociedade viável seria pautada na valorização da vida (dom supremo) e não na opulência, na suntuosidade do poder e do lucro. A supervalorização dos bens materiais e a cultura do consumo (patrocinados pelo capitalismo selvagem) constroem na pós-modernidade, em níveis cada vez mais alarmantes, o individualismo e a discriminação social.

Ao esfacelar as relações comunitárias, os idealistas do mercado globalizado abrem as portas para o surgimento da cultura dos “aptos e dos inaptos”. Os aptos são os vencedores da sociedade competitiva e os que estão alinhados às exigências mercadológicas. Os inaptos são os descartes gerados por esta sociedade: os homens e as mulheres que não se enquadram na cartilha da globalização.

É assim que o professor, em sua sala de aula, caminha junto às dezenas de crianças, adolescentes, jovens e adultos; afetados por um sistema desagregador, corrupto e preconceituoso, que aniquila a estrutura familiar e as relações sociais em favor do lucro.

A nós professores, resta-nos empreender uma luta homérica a fim de que a educação não se torne mercadoria e seus receptores não sejam produtos rejeitados e sumariamente descartados como refugos da “pós-modernidade líquida”. 

Texto: Alisson Ferreira           


[1] Zigmund Balman: Mal-estar da Pós-modernidade.