terça-feira, 14 de agosto de 2012

O que nos legou a inconstância


Repletos de uma arrogância pós-moderna, dos brados demagógicos como: - "Chega de corrupção; Viva a liberdade; Pelo direito disso e daquilo”, caminhamos. Nossa sociedade ainda não aprendeu a ser coerente, pelo menos quanto aos efeitos da teoria e da prática. Não temos norte, nem sequer construímos um. A verdade é que estamos brincando com a vida e dela fazendo pouco caso. Sem sintonia, seguimos.

Passou-se uma década do novo milênio e continuamos os mesmos. O que mudou em nós? Enquanto a força do tempo faz-se nítida em nossa frágil composição corpórea, não podemos dizer que, na mesma intensidade, nossas condutas tenham sofrido alterações. Vivemos uma crise ética; e não política como alardeiam os profetas deste novo tempo.

Somos homens e mulheres cansados, dispersos, infortunados e solitários em meio ao turbilhão de eventos que produzimos. Walter Benjamin, desanimado, certa vez expressou sobre a incapacidade de transformação da sociedade: "que as coisas continuem como antes, eis a catástrofe!". As permanências estão nos conduzindo a um doentio desequilíbrio moral, a um colapso societário que, certamente, as gerações futuras irão lamentar.

Nota-se, curiosamente, que as situações mais simples de serem vivenciadas estão cada vez mais raras. Vivemos a era dos megaeventos, das superproduções e da exaltação da futilidade. Não há espaço para os acenos cordiais, para as visitas familiares e nem mesmo para as conversas amigáveis, isso gasta tempo. “E tempo é caro.”

Somos factuais; seres presos aos imediatismos mercadológicos; amantes do amanhã remunerado e sempre esperado. Parece contraditório, mas é assim que gostamos. Não buscamos “estar convictos” de nada. Convicções são persuasivas e muitas vezes podem revelar-nos impossibilidades e por isso, viver o fato imediato e palpável impede-nos, momentaneamente, de sofrermos uma desilusão. Benjamim declara com hábil olhar essa realidade. Como filósofo, ao contemplar a sociedade em que está inserido ele expressa o fascínio que temos para com as realidades factuais.

Estamos sem nomes, sem amores, sem crenças; peregrinos em um mundo que não se prende a nós - há muito partiu! Perdemos a hora e nossa vida passou. Estamos com 33, 45, 60, 80 anos e vivemos nossas desventuras como antes, só que agora, entediados com nossa própria prepotência, escrevemos textos lamentando nossa falta de identidade. 

Texto: Alisson Ferreira