quinta-feira, 19 de julho de 2012

Jovens negras têm menos acesso a escola e a trabalho, mostra relatório da OIT

19/07/2012 - 10h12
Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil
Brasília – Uma em cada quatro jovens negras brasileiras entre 15 e 24 anos não estuda ou não trabalha – o que corresponde a 25,3% dessa faixa da população. Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgados hoje (19) no relatório Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um Olhar sobre as Unidades da Federação. Entre a população jovem em geral, o percentual das pessoas que não trabalha ou não estuda chega a 18,4%, o que corresponde a 6,2 milhões de pessoas. Entre as mulheres jovens, a taxa é 23,1%. Esse fato é identificado com mais intensidade nas áreas urbanas, em que 19,7% dos jovens estão nessa situação, contra 7,9% nas áreas rurais.
“Quando a jovem diz que não trabalha, quer dizer que não trabalha remuneradamente. Ou ela é mãe e não tem apoio das redes de proteção social; ou concilia família e trabalho; ou cuida de irmãos melhores para a mãe trabalhar”, destacou o coordenador do estudo da OIT, José Ribeiro.
A taxa de mulheres negras negras que não trabalham ou não estudam é superior às das mulheres jovens em geral (23,1%), dos homens jovens (13,9%) e dos homens negros (18,8%).
“O afastamento das jovens da escola e do mercado de trabalho, em um percentual bastante superior ao dos homens, é fortemente condicionado pela magnitude da dedicação delas aos afazeres domésticos e às responsabilidades relacionadas à maternidade, sobretudo quando a gestação ocorre durante a adolescência”, ressalta o relatório.
Os estados em que há mais desemprego entre as jovens negras são Pernambuco (36,7%), o Rio Grande do Norte (36,0%), Alagoas (34,9%), o Pará (33,7%) e Roraima (33,2%).
“As cifras de redução da pobreza e de desigualdade no Brasil, nos últimos anos, são avanços importantes e internacionalmente reconhecidos pela OIT. A pobreza e a desigualdade continuaram diminuindo no Brasil apesar da crise. O Brasil nesse sentido se destaca no cenário internacional. [Mas] a questão do jovem é claramente um desafio”, disse a diretora da OIT no Brasil, Laís Abramo. 
Edição: Juliana Andrade
foto: agenciaatitude.wordpress.com

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Um mundo pós tudo


Vivemos em um mundo “passageiro”. Nele construímos caricaturas sociais descartáveis facilmente trocadas por outras. À medida que nossa sociedade se desenvolve, as ideologias, as crenças, as culturas e os conceitos são envolvidos em um ambiente que já se esgotou. Vivemos a exaustão de recursos diversos e a ideia de “aldeia global” agora esbarra no problema das superpopulações. Não há espaços abertos dentro do modelo de humanidade que criamos. Ela é fruto da falência dos nossos relacionamentos humanos, do que chamarei de pós-tudo.

O homem cria conceitos diversificados e rotula seus iguais. Neste sentido, somos classificados e colocados diante de construções ideológicas que servem a propósitos puramente mercadológicos e, o que era “sólido se desmancha no ar” [1].  Criamos um mundo “frio” onde tudo se encaixa na ideia da razão pragmática, aquela que só aparece nas conveniências e só se desenvolve dentro de relações de curto tempo.

A sociedade do pós-tudo entende o que é duradouro como um crime contra a liberdade, um assalto aos direitos individuais. Nela, os laços relacionais desmantelam-se e constituem-se num entrave à emancipação de ser. A solidez das instituições históricas é questionada; suas contribuições na formação da sociedade não preenchem mais as necessidades de um mundo ávido de teorias fluidas. Neste sentido, conceitos humanitários, como o de igualdade, em seus diversos campos quer jurídico ou social possuem interpretações individualizadas e relativas. Há um sistemático ritmo de inversão de valores. A sociedade dita moderna, porém, filha de um tradicional esteio sócio-religioso enfrenta um colapso de suas verdades. O que era socializado privatizou-se.

“Nossos laços não estão bem atados” [2], assim como nossas práticas não se prendem às teorias. O desencantamento com o “outro” promove uma crise ética e moral e nos leva ao que eu disse serem “os descartáveis”. Quando o “outro” e suas características socioculturais tornam-se inadequados, inaptos e descartáveis, o que chamamos de humanidade perde sentido e fecha a porta para a diversidade. Daí é criado um ambiente onde a ordem é “refugar” [3] “os impróprios” desocializados como resultado de um mundo pós-amor, pós-igualdade, pós-fraternidade; um mundo pós-tudo.

Texto: Alisson Ferreira

[1] Karl Marx - O Manifesto Comunista
[2] Zygmunt Bauman - Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos

[3] Zygmund Bauman - Vidas Desperdiçadas