quarta-feira, 18 de julho de 2012

Um mundo pós tudo


Vivemos em um mundo “passageiro”. Nele construímos caricaturas sociais descartáveis facilmente trocadas por outras. À medida que nossa sociedade se desenvolve, as ideologias, as crenças, as culturas e os conceitos são envolvidos em um ambiente que já se esgotou. Vivemos a exaustão de recursos diversos e a ideia de “aldeia global” agora esbarra no problema das superpopulações. Não há espaços abertos dentro do modelo de humanidade que criamos. Ela é fruto da falência dos nossos relacionamentos humanos, do que chamarei de pós-tudo.

O homem cria conceitos diversificados e rotula seus iguais. Neste sentido, somos classificados e colocados diante de construções ideológicas que servem a propósitos puramente mercadológicos e, o que era “sólido se desmancha no ar” [1].  Criamos um mundo “frio” onde tudo se encaixa na ideia da razão pragmática, aquela que só aparece nas conveniências e só se desenvolve dentro de relações de curto tempo.

A sociedade do pós-tudo entende o que é duradouro como um crime contra a liberdade, um assalto aos direitos individuais. Nela, os laços relacionais desmantelam-se e constituem-se num entrave à emancipação de ser. A solidez das instituições históricas é questionada; suas contribuições na formação da sociedade não preenchem mais as necessidades de um mundo ávido de teorias fluidas. Neste sentido, conceitos humanitários, como o de igualdade, em seus diversos campos quer jurídico ou social possuem interpretações individualizadas e relativas. Há um sistemático ritmo de inversão de valores. A sociedade dita moderna, porém, filha de um tradicional esteio sócio-religioso enfrenta um colapso de suas verdades. O que era socializado privatizou-se.

“Nossos laços não estão bem atados” [2], assim como nossas práticas não se prendem às teorias. O desencantamento com o “outro” promove uma crise ética e moral e nos leva ao que eu disse serem “os descartáveis”. Quando o “outro” e suas características socioculturais tornam-se inadequados, inaptos e descartáveis, o que chamamos de humanidade perde sentido e fecha a porta para a diversidade. Daí é criado um ambiente onde a ordem é “refugar” [3] “os impróprios” desocializados como resultado de um mundo pós-amor, pós-igualdade, pós-fraternidade; um mundo pós-tudo.

Texto: Alisson Ferreira

[1] Karl Marx - O Manifesto Comunista
[2] Zygmunt Bauman - Amor Líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos

[3] Zygmund Bauman - Vidas Desperdiçadas

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