sábado, 13 de novembro de 2010

O 20 de novembro e o legado de Zumbi

A questão do negro no Brasil, por muito tempo, foi lembrada apenas na data 13 de maio, aniversário da assinatura da Lei Áurea, de 1888, que aboliu a escravatura. Comumente, viam-se, nesta data, principalmente nas escolas, crianças negras que protagononizavam o papel de escravos; enquanto a mocinha branca se vestia de “Princesa Isabel”. Na peça teatral, em que o destaque era dado para a ação da Princesa, nada se falava sobre a resistência e as lutas dos negros.

No final da década de 1970, o movimento negro conseguiu impor o “Dia Nacional da “Consciência Negra”, em homenagem a Zumbi dos Palmares, que foi assassinado nesta data, há 315 anos, 1695. A partir de então, lembrado não só por sua liderança frente a Palmares, mas também por ter dado a seus irmãos negros um motivo para lutar, para resistir à escravidão imposta que aniquilava suas vidas e os desqualificava como seres humanos.

O dia 20 de novembro nasceu da vontade de desfazer erros gritantes e históricos, da urgência de incluir na História do Brasil os negros e negras marginalizados, que ajudaram com seus braços e pernas, cores e cantos, lutas e rezas a construírem nossa nação. A historiografia oficial sempre dedicou capítulos e mais capítulos abordando trechos edificantes de seus mais ilustres personagens (brancos heróis nacionais). A cultura do colonizador sempre pautou as escritas que apontassem um Brasil europeizado e sem qualquer ligação com outra forma de cultura.

Esta data marca o auge da luta dos movimentos negros, dos homens e das mulheres que se empenharam para que o povo brasileiro tomasse conhecimento das lideranças negras e das muitas ações de resistências promovidas por eles através da História. Assim, a partir da década de 70 até os dias de hoje, Zumbi passou a ser valorizado no contexto de luta contra o mito da “Democracia Racial”, auxiliando na desmistificação que a história prega sobre o tipo de relações raciais desenvolvidas no Brasil: a de uma escravidão pouco violenta e de resistência sem tanta importância.

A visão da “Democracia Racial” ainda tenta apresentar para a sociedade a ideia de que os vários grupos étnico-raciais existentes no Brasil viveram e ainda vivem harmoniosamente, apagando, assim, quaisquer resquícios dos conflitos históricos entre brancos e negros. Daí a importância de Zumbi dos Palmares, de sua representação ativa e rebelde que se contrapõe a toda essa ideia instituída pela história oficial. A imagem de Zumbi não só representa a resistência negra, mas contribuí, também, para que negros e brancos se compreendam e convivam reconhecendo suas diversidades culturais.

O dia da “Consciência Negra” nos leva a refletir sobre a realidade do negro em todas as esferas da sociedade, mostra-nos que os mesmos ainda são subjugados aos piores postos de trabalho, aos menores índices de desenvolvimento educacional, aos menores salários e à marginalidade.

Reflitamos sobre a necessidade de buscarmos nas raízes de nossa História os verdadeiros líderes e construtores dela; a necessidade de evocarmos a memória de homens e mulheres que ajudaram a construir este pai, para assim, desconstruirmos as mazelas da História Tradicional que elimina o sujeito simples e edifica os figurões nacionais.

Viva Zumbi dos Palmares! Vivia todo e cada negro deste país! E viva todos os homens e mulheres de bem que não encontram barreiras para amarem seus semelhantes!

Texto: Alisson Ferreira

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