domingo, 16 de janeiro de 2011

Uma cidade sem memória. Uma cidade sem história



Divulgação: Divinópolis década de 1980
 
A história da formação dos bairros é marcada por uma profunda evocação à memória. Pela memória da comunidade o passado se incorpora à vida presente, e os seus elementos materiais que também compõe o cotidiano das comunidades são também suportes de evocações coletivas. Quando estamos fixados ao lugar de origem, ou mesmo ao lugar a qual adotamos como “nosso”, somos levados a atribuir um significado ao mesmo, enxergar um algo mais para ele, e é a permanência nele que marca nossa trajetória como agentes históricos locais e assim também, atribuímos significados à esta permanência.

Um bairro possui pedaços, fragmentos de história que compõe a história da cidade. Os bairros são depositário de culturas que se entrelaçaram no decorrer de sua existência. Divinópolis viveu momentos de intensa ruralização de sua economia e também o apogeu da mesma advinda da industrialização. Estes momentos foram impressos no seio de seus bairros diante de um processo desenvolvimentista que cobriu o país nas décadas de 50 e 60.  Neste sentido, uma parte de sua história se encontra dentro dos registros oficiais (lugares construídos e destruídos, atos, festas e nomes) e uma outra, está fora da mesma, está dentro de nós.

Divinópolis não preserva a história de seus bairros e, por conseguinte a história de seu povo. Não se vê políticas de preservação da memória e dos patrimônios construídos e naturais. É nítida a apatia governamental em Divinópolis quanto à preservação de sua história. Aqui se encontra o culto da indiferença, o hábito cruel de alguns governantes e até cidadãos comuns que perderam o sentido de comunidade. O consumo é a locomotiva do progresso que faz da cidade um lugar passageiro, onde tudo pode ser destruído e construído a qualquer momento, as histórias são substituídas por outras sem perspectiva de futuro.

Digo que, se o passado é preservado é porque ele tem sempre algo a dizer para situar e apontar para o presente. É importante dizer que, uma cidade não é feita somente do desenho de ruas e arquiteturas, ela é feita também de sonhos, segredos, interpretações do vivido e ações subjetivas que vão compondo todo o seu corpo estrutural. Bairros, praças, ruas, edificações, monumentos e até mesmo os nomes dados a eles, documentam a vida de uma cidade. A memória de uma cidade é também a memória de seus habitantes. Não se pode imaginar algo novo para o presente se não conseguimos evocar as lembranças de nossas comunidades e assim dizendo, sem a memória o novo seria nada, sem ela não se pode recorrer à história.

A memória de um indivíduo ou de uma cidade está na base da formulação de uma identidade, que a continuidade encarrega de perpetuar. Lefebvre dizia que a forma do urbano, sua razão suprema, a saber, a simultaneidade e o encontro, não podem desaparecer, devem se perpetuar. Neste sentido, é importante uma mudança de atitude quanto ao trato para com os nossos patrimônios materiais e imateriais. Devemos ligar nossas ações ao que a história nos conta através da memória, para que ela não fique reduzida a alguns fatos ou ações escolhidas por interesses políticos ou de dominação e para que as ações nem sempre preservacionistas dos governos não privem outras gerações de conhecerem a história de sua comunidade e, assim, a de sua cidade.

Divinópolis já iniciou os preparativos de seu centenário que acontecerá em primeiro de junho de 2012, porém, estamos longe de comemorar esta data em sua plenitude. Em uma festa de aniversário celebra-se a vida, constroem-se planos, projetos e empreende-se cada vez mais a humanização de nossas relações com o presente e o passado. É na relação do nosso presente com o passado que se formam o caráter e a nossa dimensão humana. Estamos engatinhando na construção desta consciência, porém, podemos começar a acelerar nossos passos se dermos a Divinópolis, hoje, e não em 2012 o maior presente que ela possa ganhar: a educação de seus filhos quanto à preservação de sua história.

A história de nossos bairros recolhe os fragmentos de cada um de nós e tece nos cabelos do tempo a imortalidade do nosso viver que se esconde em nossas obras concretas e abstratas, se esconde em nossa memória. Assim, a história urbana pode estar preservada em construções antigas, ruas, praças e bem como na memória coletiva de uma comunidade. Vejo que Divinópolis está fadada ao esvaziamento de sua história se não guardar a memória de seu povo.

É preservando a memória dos bairros; valorizando as ações e as diversidades culturais dentro dos mesmos, educando nossas crianças e jovens, que iremos festejar em 2012, uma bonita e conscientizada história de Divinópolis. 


[1] Adaptado do texto integrante da Monografia “Bairro Interlagos: Industrialização, Urbanização e Ônus Ambiental”, apresentada por Alisson Ferreira à banca do curso de História, em dezembro de 2005.

Um comentário:

  1. Divinópolis não preserva sua história e não há nada mais triste que isso, temos que seguir em frente sem esquecermos de tudo que deixamos para trás, todas as cidades devem crescer assim, não há um lugar atrativo para se visitar e relembrar a história da cidade isso é muito triste.

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