A nós professores, resta-nos empreender uma luta homérica a fim de que a educação não se torne mercadoria e seus receptores não sejam produtos rejeitados e sumariamente descartados como refugos da “pós-modernidade líquida”.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Os refugados do sistema e a globalização: Os desafios do educar no pós-modernidade
A nós professores, resta-nos empreender uma luta homérica a fim de que a educação não se torne mercadoria e seus receptores não sejam produtos rejeitados e sumariamente descartados como refugos da “pós-modernidade líquida”.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
"“A felicidade do negro é uma felicidade guerreira”

quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Estátua de ZUMBI DOS PALMARES amanhece pichada no Rio de Janeiro
terça-feira, 16 de novembro de 2010
I Seminário "EDUCAR NA DIVERSIDADE: pedagogia da inclusão."
PALESTRAS | PALESTRANTE | ||
Manhã 8h às 11h30 | Os referentes culturais das concepções de gênero e de sexualidades a partir da perspectiva das ciências sociais. | Alexandre Eustáquio Teixeira | |
Inclusão: revisando conceitos e atitudes. | Geralda Pinto Ferreira | ||
Questões étnicorraciais: desafios e perspectivas | Maria Cristina Santos | ||
As ações afirmativas dos valores civilizatórios dos africanos no Brasil. Afrodescendência e musicalidade. | Sidney Fagundes Vieira | ||
Tarde 14h às 17h30 | Educar para a diversidade: para que sejamos todos(as) mais humanos! | José Heleno Ferreira | |
O gênero e a diversidade cultural – um olhar sobre as várias faces dessa temática | Liliana Martinho Bertola | ||
Questões étnicorraciais: desafios e perspectivas | Maria Cristina Santos | ||
As ações afirmativas dos valores civilizatórios dos africanos no Brasil. Afrodescendência e musicalidade. | Sidney Fagundes Vieira | ||
Noite 18h às 21h30 | Os refugados do sistema e a globalização: os desafios de se educar na modernidade | Alisson Ferreira | |
Relações Étnicorraciais e a sala de aula: compreen-dendo suas dimensões, possibilidades e desafios na perspectiva da inclusão | Camila Carolina Flau-sino | ||
Relações de gênero na escola: uma reflexão sobre currículo, práticas educativas, preconceito, discrimi-nação e bullyng. | Flávia Patrícia Couto | ||
O gênero e a diversidade cultural – um olhar sobre as várias faces dessa temática | Liliana Martinho Bertola |
30/11 — Manhã 8h às 11h30 Local: Obras Sociais - R. Mato Grosso, 503 | ||
Of.01 | Era digital: mídia, diversidade e inclusão? | Anderson Ribeiro |
Of.02 | Educação: perspectivas para o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira na sala de aula. | Camila Carolina Flausino |
DIA 30/11 Manhã 8h às 11h30 Local: Semed — R. Minas Gerais 1474 | ||
Of.05 | Gênero sexualidade e sexo: lidando com a diversida-de sócio/cultural no cotidiano escolar. | Flávia Patrícia Couto |
Of.06 | O gênero e diversidade cultural - Um olhar sobre as várias faces dessa temática. | Liliana Martino Bertola |
Of.07 | ?Diversidade sexual na escola? | Luis Carlos Gonçalves |
Of.08 | As Ações afirmativas dos valores civilizatórios dos africanos no Brasil. Afrodescendência e musicalidade. | Sidney Fagundes Vieira |
Of.09 | Afetividade e sexualidade: um desafio a ser discutido na escola | Sirléia Moreira Tavares |
30/11 - Tarde 14h às 17h30 Local: Obras Sociais - R. Mato Grosso, 503 | ||
Of.03 | Educar e se educar na diversidade. | Alisson Ferreira |
Of.04 | Cultura e diversidade - para onde iremos? | Kátia Leite |
DIA 30/11 Tarde 14h às 17h30 Local: Semed - R. Minas Gerais 1474 | ||
Of.10 | Brasil e África: uma história a ser (re)construída. | Érika do N. P. Mendes |
Of.11 | A diversidade em prosa e verso. | José Heleno Ferreira Sânia Mascarenhas Silva |
Of.12 | O gênero e diversidade cultural - Um olhar sobre as várias faces dessa temática. | Liliana Martino Bertola |
Of.13 | Gênero e sexualidade na escola. Reconhecer diferen-ças e superar preconceitos. | Maria Isabel Silva |
Of.14 | As Ações afirmativas dos valores civilizatórios dos africanos no Brasil. Afrodescendência e musicalida-de. | Sidney Fagundes Vieira |
DIA 30/11 Noite 18h às 21h30 Local: Semed - R. Minas Gerais 1474 | ||
Of.15 | Educar e se educar na diversidade. | Alisson Ferreira |
Of.16 | Era digital: mídia, diversidade e inclusão? | Anderson Ribeiro |
Of.17 | Educação: perspectivas para o ensino de História e Cultura Africana e Afro-Brasileira na sala de aula. | Camila Carolina Flausino |
Of.18 | Gênero sexualidade e sexo: lidando com a diversida-de sócio/cultural no cotidiano escolar. | Flávia Patrícia Couto |
Of.19 | A Escola que queremos: uma realidade em constru-ção. | Geralda Pinto Ferreira |
Of.20 | Cultura afro-brasileira: implicações pedagógicas no currículo escolar. | Juliana Vasconcelos. |
sábado, 13 de novembro de 2010
O 20 de novembro e o legado de Zumbi

segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Uma Igreja que cresce dentro de um desafio de amor
A Cor da pobreza e a reconstituição da dignidade
1 - Site do Ministério da Fazenda – Diagnóstico das desigualdades raciais no Brasil
2 - Os números podem ser encontrados no site do IBEGE
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
A historiografia e o esvaziamento da memória

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ONU denuncia aumento do racismo na França
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
A superação do racismo
Romaria da Terra no Paraná refletiu a situação dos Quilombolas

O encontro dos romeiros paranaenses e de outros estados foi um momento rico de oração e reflexão a partir da experiência dos povos quilombolas. Foi também a oportunidade da Igreja reafirmar o seu compromisso solidário com esta população que luta para ter os seus direitos reconhecidos.
A África quer contar sua história
Texto: Alisson Ferreira
segunda-feira, 26 de julho de 2010
PRESIDENTE LULA SANCIONOU O ESTATUTO DA IGUALDADE RACIAL

Leiam....
Presidente: Tudo bem, Luciano.
Apresentador: Presidente, o senhor sancionou a lei que cria o Estatuto da Igualdade Racial, na terça-feira passada. Qual a importância dessa lei?
Presidente: Olha, Luciano, primeiro, a importância da lei é garantir que neste país, a partir de agora, não exista nenhuma diferença entre negros e brancos. Na verdade, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, transformado em lei, vem reforçar aquilo que a gente já tinha previsto na Constituição de 1988, fazer do Brasil uma República efetivamente democrática, em que todos, sem distinção, sejam tratados em igualdade de condições. O que é importante é que esse projeto levou mais de 10 anos para ser aprovado no Congresso Nacional. Foi um trabalho imenso. Eu lembro que na primeira Conferência da Igualdade Racial, eu chamava a atenção para todos os movimentos que representam a comunidade negra brasileira, de que era preciso que eles se unissem e que eles construíssem um único estatuto para que o Congresso pudesse aprovar. Porque enquanto tivesse vários pensamentos sobre estatuto no meio do movimento, ele se refletia no Congresso Nacional, e se refletindo divergências no Congresso Nacional seria muito difícil que fosse aprovado o Estatuto da Igualdade Racial. Então, a sabedoria do movimento e o aprendizado que nós tivemos nesses últimos anos, um trabalho muito forte do ministro Eloi (Elói Ferreira de Araújo – Ministro da Igualdade Racial) fez com que a gente construísse uma proposta única, sabe, que foi aprovada na Câmara e que foi aprovada no Senado. E isso então pôde ser aprovado, transformado em lei, sabe? Não é tudo que a gente quer, ainda faltam coisas pra gente fazer, mas é importante que a gente tenha a clareza que hoje nós temos o Estatuto da Igualdade Racial, nós temos uma lei que dá mais direitos, que recupera a cidadania do povo negro brasileiro. É importante a gente nunca esquecer que nós ficamos 380 anos, sabe, praticando escravidão neste país. O Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão. Acho que nós temos uma dívida enorme com o Continente Africano, com o povo africano, é uma dívida que a gente nunca vai poder pagar em dinheiro, a gente vai poder pagar, sabe, em solidariedade, em ajuda humanitária, em ajuda ao desenvolvimento, em ajuda no conhecimento científico e tecnológico que o Brasil tem que ajudar o povo da África. E, assim como o Brasil, todos aqueles, sabe, que conseguiram crescer colocando em prática a política, eu diria, intolerável da escravidão, sabe? E, ao mesmo tempo, nós temos que agradecer sempre, ou seja, a miscigenação, a alegria, a bondade, o jeito da gente ser, o gostar do carnaval, o gostar de dançar, o gostar de futebol, sabe, o sorriso, o tratamento que a gente tem com todo mundo que frequenta o Brasil. É tão extraordinário que eu acho que tudo isso nós devemos, essa mistura fantástica entre negros, índios e europeus.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Presidente, na mesma ocasião o senhor sancionou a lei que cria a Universidade Luso Afro Brasileira. Como ela vai funcionar?
Presidente: Olha, eu penso que, nós já tínhamos criado a Universidade da América Latina, uma universidade que vai atender estudantes latino-americanos, com currículo latino-americano, com professores latino-americanos, pra contar a história da América Latina. Ou seja, no fundo, no fundo, é a maior contribuição que a gente pode dar à integração da América Latina. Eu fico sempre me perguntando, como é que Cuba, um país pobre, de apenas 11 milhões de habitantes, consegue ter universidades, sabe, que atende gente do mundo inteiro, e um país do tamanho do Brasil não pode ter? Nós vamos construir uma Universidade Luso Afro Brasileira na cidade de Redenção, no estado do Ceará, cidade esta que foi a primeira onde houve o movimento pela libertação da escravidão no Brasil. É uma universidade que nós pretendemos que ela tenha por volta de 10 mil alunos, 5 mil alunos africanos, e 5 mil alunos brasileiros. No início, a lei está aprovada para atender alunos dos países africanos de língua portuguesa. Eu acho que nós temos que ampliar para todo o Continente Africano, ou seja, para que a gente possa atender um pouco de aluno de cada país africano, para gente formar a capacidade intelectual, ajudar a formar engenheiros, médicos, enfermeiras. E essa universidade é pra isso, é pra gente formar profissionais, é pra gente fazer uma espécie de pagamento de tributos que nós temos com o Continente Africano, e ajudar o Continente Africano. Ou seja, é o Brasil assumindo a sua grandeza, é o Brasil assumindo, ou seja, a condição de um país que a vida inteira foi receptor e, agora, é um país doador. Ou seja, nós queremos ajudar os outros a desenvolverem. Por isso, eu fiquei extremamente feliz quando o Senado aprovou a criação da Unilab.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula, e até a próxima semana.
Presidente: Obrigado a você, Luciano, e até a próxima semana se Deus quiser.
Você pode acessar este programa em www.cafe.ebc.com.br.
sábado, 24 de julho de 2010
Ali Kamel e a farsa de seu livro: “Não somos racistas”
Leiam....
Nesse artigo, tratamos de debater com algumas das principais idéias do livro “Não somos racistas – Uma reação aos que querem nos transformar em uma nação bicolor”, de Ali Kamel, diretor de jornalismo da Rede Globo, publicado em 2006. A idéia principal de Ali Kamel é de que o racismo não é um aspecto estrutural da sociedade brasileira. Para ele, o racismo existe aqui, mas porque “onde há homens reunidos há também todos os sentimentos, os piores inclusive”. Assim, ele resume o racismo daqui como um sentimento, uma questão moral, definição que está a serviço de esconder o racismo institucional e o papel que cumpriu e cumpre o Estado para sua manutenção.
“Aqui, após a Abolição, nunca houve barreiras institucionais a negros ou a qualquer outra etnia”
Para afirmar isso, ele tem que omitir como se deu o processo pós-Abolição. O projeto que o Estado brasileiro implementou esteve de acordo com seu objetivo de embranquecimento do país, colocando os negros como “incapazes” de compor a classe operária que então foi formando-se. A imigração européia foi promovida a passos largos: de 1890 a 1900, 1,4 milhão de imigrantes chegaram ao Brasil. Para os negros, que compuseram a força de trabalho escravo durante mais de 300 anos, a introdução do “trabalho livre” significou transformar-se em exército de reserva, sob as piores condições de vida. Ao contrário da definição de Ali Kamel, o racismo não se apresentou como mero “sentimento”, mas como política de Estado, planejada e implementada. Se isso não se caracteriza como barreira institucional, o que mais poderia assim se caracterizar?
Mas além de impedir os negros de ocupar os postos de trabalho que iam se gerando, o Estado tratou ainda de garantir a repressão e punição judicial aos negros com a Lei de Vadiagem, dois anos depois de abolida a escravidão. Negros que não comprovassem trabalhar, assim como a capoeiragem e os terreiros de candomblé, eram perseguidos violentamente. A lei considerava vadiagem: “Deixar de exercitar profissão, ofício, ou qualquer mister em que ganhe a vida, não possuindo meio de subsistência e domicílio certo em que habite; prover a sua subsistência por meio de ocupação ofensiva da moral e dos bons costumes” [1]. Por um lado, milhões de negros que introduziram aqui técnicas desenvolvidas na África [2] e suportaram as condições de trabalho mais desumanas da escravidão não serviam mais para o trabalho [3]. Por outro lado, todos aqueles que não exerciam profissão eram considerados “vadios”. Depois de cumprir pena, que podia chegar a três anos em caso de reincidência, tinham ainda que assinar um termo comprometendo-se a “tomar ocupação dentro de quinze dias”. Ao mesmo tempo que te impedem de trabalhar, te obrigam a ter trabalho: assim poderíamos resumir esse mecanismo. Estavam na mira do desemprego e da repressão policial os negros recém “libertos”. Mas para Ali Kamel, nunca houve barreiras institucionais aos negros depois da abolição…
O racismo a serviço do capitalismo
Poderiam ser escritas muitas páginas sobre as “barreiras institucionais” que garantiram a manutenção do racismo ao longo desses 122 anos, após a Lei Áurea. As medidas de opressão ao povo negro não foram meros detalhes, mas parte essencial do projeto de formação do Brasil. Se hoje, os salários e direitos trabalhistas dos negros e negras são tão inferiores e ainda compomos em grande medida os índices de desemprego, tudo isso serve aos capitalistas para rebaixar a média salarial do conjunto da classe trabalhadora e aumentar seus lucros. A idéia de que negro é incapaz ou não se enquadra nos padrões de boa aparência se mantém muito a serviço desse interesse.
Como afirmou Malcolm X, “não existe capitalismo sem racismo”. E isso diz respeito não somente aos dias atuais, mas ao processo histórico em que se desenvolveu o capitalismo. O trabalho escravo do africano e do afro-descendente no continente americano – marcando-nos como “seres inferiores”, não-humanos - gerou riquezas exorbitantes às metrópoles. E mais ainda com o tráfico de africanos seqüestrados foram gerados lucros ainda maiores, dos quais se beneficiou principalmente a Inglaterra, justamente o país que a seguir esteve à frente no desenvolvimento da indústria capitalista – e que então empreendeu uma luta violenta contra o tráfico de africanos, pela expansão do trabalho livre [4].
Uma vez mais, a idéia de um Brasil mestiço para maquiar o racismo
Depois de tantas críticas a Gilberto Freyre e sua concepção de um Brasil mestiço e harmônico - feitas não somente pelo movimento negro, mas também por intelectuais brancos comprometidos em alguma medida com a luta pela igualdade racial -, Ali Kamel traz de volta as idéias de Freyre. Espertamente, apresenta-o como quem mais se destacou em se contrapor ao pensamento racista que predominava nas ciências sociais no início do século passado. É verdade quando Kamel caracteriza esse pensamento como “abjeto”. Mas há um problema: o pensamento racista de fins do século XIX e início do XX, que partia de caracterizar os negros como biologicamente inferiores para defender sua progressiva diminuição no contingente populacional, não foi eliminado nos dias atuais – apenas ganhou novas roupagens. De tempos em tempos, mesmo depois de todas as comprovações científicas sobre o quanto infundadas são essas teorias, aparecem cientistas reafirmando a existência de inferioridades biológicas. Pelo raciocínio de Ali Kamel, deveria se concluir que tudo isso não passa de exceção à regra.
Para Ali Kamel, é um absurdo que aqueles que se autodenominam “pardos” sejam considerados “negros”. Segundo ele, um “pardo” tem descendência de negros e também de brancos – o que é verdade. Mas é a descendência negra à mostra que predomina nas entrevistas de trabalho ou nas batidas policiais [5]: nessas horas, ninguém tem dúvida sobre quem é branco e quem é negro, o racismo mostra a sua cara sem máscaras e a “nação bicolor” se revela uma vez mais.
Mas Ali Kamel está preocupado em encontrar o “cafuzo, mulato, mameluco, caboclo, escurinho, moreno, marrom-bombom”. Ele se assusta com o que para ele só pode ser uma idéia – equivocada – e não uma realidade: “uma nação de brancos e negros onde os brancos oprimem os negros”. E continua: “Outro susto: aquele não era o meu país”.
Seu país é bem diferente dos Estados Unidos, pois aqui “quase todos, mesmo os racistas, encantam-se com o que se considera ter vindo da África”. Ora, os negros viemos da África e encantamento por nosso povo é o que não conhecemos desde os tempos da escravidão. Ah, mas ele está falando da cultura negra, podem dizer. E o que muda? A burguesia branca pode mesmo se encantar com o carnaval do Rio de Janeiro ou da Bahia [6]. Mas, além de isso ter como pano de fundo o turismo sexual, em que as mulheres negras seguem como “mulatas” de consumo, essa aparente “confraternização” não muda em nada as relações sociais que marcam o racismo estrutural.
Mas Ali Kamel é um “freyreano” convicto. Chega ao ponto de dizer que Gilberto Freyre deu ao negro a “sua real dimensão”, e exalta a “mistura” insistentemente. Ele acusa os críticos de terem lido apressadamente ou não terem lido a obra de Gilberto Freyre. Faz isso para não ter que explicar a contradição entre a caracterização de “congraçamento” – ou seja, amizade, fraternidade – e os estupros, olhos furados, peitos dilacerados relatados pelo próprio Freyre.
A solução de Ali Kamel só pode ser uma farsa
Ali Kamel não ignora os números das pesquisas que revelam as desigualdades raciais: ele as manipula tentando provar por um lado que a “pobreza é parda” – e não negra – e que os negros – nesse caso, “pardos” e “pretos” - aparecem relacionados aos níveis mais baixos de condições de vida, pelo mero fato de ser grande parte da população pobre. Logo, para ele, as políticas específicas para os negros são infundadas.
É aí que entra no que diz ser “a face mais feia da sociedade brasileira”: “o preconceito contra os pobres”, que ele espera diminuir com a diminuição da pobreza! E então, vem a “única solução”: a educação. A “fórmula mágica” é investir na educação e assim o país se desenvolverá e ajudará os pobres a deixar de ser pobres (ou tão pobres). Esse é o mundo de Kamel: o racismo não é estrutural no Brasil e pobreza não tem nada a ver com exploração capitalista! Na sociedade que ele desenha, não existem capitalistas mantendo seus lucros exorbitantes sob o sangue e o suor dos trabalhadores e nem a manutenção de um exército de reserva que vive na miséria. O problema é uma tal concentração de renda abstrata, que não se explica como se desenvolve – só o que ele pode dizer é que investir na educação será a solução. Não é à toa que Yvonne Maggie [7] afirma que o que está em pauta é o “nosso futuro”. Está em pauta o futuro deles e o nosso, que não pode ser o mesmo, porque a “nação” que apresentam, não garante direitos iguais: na verdade, garante muitos lucros a quem possui a propriedade privada, ao mesmo tempo em que garante exploração e repressão aos que nada têm, a não ser a sua força de trabalho. E o problema da “nação bicolor” não está colocado somente para que se contraponham às políticas de cotas raciais. Também nesse caso, está em pauta o futuro: se os negros desse país tomam em suas mãos a luta contra a opressão histórica a que estamos submetidos isso significará colocar em risco as bases da dominação dessa burguesia branca. É por isso que lutamos. É contra isso que se coloca Ali Kamel.
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[1] Artigo 399 do Código Penal de 1890.
[2] Ao contrário das idéias que se propagam até hoje, muitos grupos africanos desenvolveram antes da chegada do homem europeu técnicas de agricultura, mineração e metalurgia, sistemas matemáticos, conhecimentos de astronomia e medicina, etc.
[3] Celso Furtado, em Formação Econômica do Brasil, livro escrito em 1959, afirma que “Sendo o trabalho para o escravo uma maldição e o ócio o bem inalcançável, a elevação do seu salário acima de suas necessidades – que estão definidas pelo nível de subsistência de um escravo – determina de imediato uma forte preferência pelo ócio”.
[4] É importante ressaltar que não havia nenhum interesse humanitário combinado a esse interesse econômico. O combate ao tráfico de africanos, desde meados do século XIX implementado pela Inglaterra como uma forma de acabar gradualmente com o trabalho escravo no continente americano, significava perseguir, bombardear e naufragar navios cheios de africanos.
[5] Aquele considerado “mestiço” ou “pardo” pode até conseguir uma vaga de emprego se estiver concorrendo com alguém considerado “preto”, mas se tiver um branco à disposição, vão embora o “mestiço” e o “preto”, sentindo na pele o que é ser negro nessa sociedade, ainda que varie a melanina.
[6] O que não quer dizer que a História da África e todo conhecimento produzido nesse continente sejam valorizados: persiste a idéia de uma África de safáris, fome, Aids e nada mais.
[7] Professora de Antropologia da UFRJ, uma das organizadoras da carta pública contra as cotas, intitulada “Todos têm direitos iguais na República Democrática”.